Por conta da alta demanda e por ser um trabalho minucioso, a perícia da Polícia Científica de Goiás em materiais sonoros, uma das atividades desenvolvidas pelo órgão, costuma levar de 15 a 30 dias. A realidade desse tipo de trabalho, entretanto, poderá mudar com o auxílio de uma ferramenta que tem como base o uso de Inteligência Artificial.
Desenvolvida pelos peritos Lucas Alcantara Souza e Rafaello Virgilli, ambos mestres em Ciências da Computação na área de Inteligência Artificial, a ferramenta pode complementar o trabalho da Polícia Científica a medida em que otimiza a metodologia tradicional já utilizada, podendo trazer ainda mais precisão e celeridade às perícias que envolvem identificação de voz. A expectativa agora é que o sistema seja incorporado às rotinas de trabalho dos peritos, de forma complementar, em até seis meses.
Desenvolvida pelos peritos Lucas Alcântara Souza e Rafaello Virgilli pode complementar o trabalho da PTCGO (Foto: Wesley Costa/O Popular)
Biometria por voz
Os peritos destacam que, assim como o DNA, a impressão digital e a íris, a voz também apresenta características únicas para cada um, o que torna possível identificar uma pessoa pela sua voz, por meio da chamada biometria por voz. Segundo os peritos, a eficiência de um sistema em distinguir uma voz das demais aumenta na medida em que é possível extrair características mais relevantes da respectiva voz, por meio do uso da Inteligência Artificial.
Souza exemplifica em que momento a comparação de voz pode ser utilizada em uma perícia. “Em uma investigação que está sendo feita por uma delegacia ou pelo Judiciário, por exemplo, pode haver um áudio de um suspeito que foi coletado e, propriamente um suspeito sobre o qual se deseja saber se foi ele quem realmente pronunciou o áudio. É neste momento que a perícia é pedida para nós aqui no Laboratório de Perícias em Áudio e Imagem”, afirmou.
Ele detalha que, a partir do áudio original, junto a outros áudios da mesma pessoa, ou até mesmo de um áudio coletado em laboratório pelos próprios peritos, as vozes são comparadas, analisadas e chega-se a uma conclusão.
Etapas
Os peritos também detalham como o sistema com Inteligência Artificial funciona, a partir da comparação de um áudio de referência, mais longo e previamente armazenado, com um áudio de teste, de apenas três segundos. Inicialmente, o arquivo de áudio, que contém a voz, é convertido em espectrogramas.
Na sequência, uma rede neural convolucional é utilizada para extrair as características da voz. Então, a partir do cálculo da similaridade entre o áudio de referência e o áudio de confirmação, é feita a classificação, ou seja, se se trata da mesma voz ou de vozes diferentes.
Expectativa dos peritos é trazer, aos poucos, a ferramenta para a perícia ( Foto: Wesley Costa/O Popular)
Expectativa
Virgilli detalha quais são os próximos passos com relação ao uso da ferramenta e também a sua inserção no trabalho pericial.
“Entendemos que o modo correto seria utilizar a ferramenta de maneira mais cautelosa, ou seja, uma ferramenta auxiliar nas perícias que já são feitas hoje. As perícias hoje têm as suas análises, e essa ferramenta para fortalecer a conclusão do perito”, ressaltou.
Segundo ele, as próximas etapas dizem respeito a trazer a ferramenta para a realidade da perícia, aos poucos.
“Por ser uma ferramenta auxiliar, acreditamos que passando essa etapa de adaptação [alimentação de dados no sistema], a ferramenta já poderia ser utilizada nas rotinas de perícia”, pontuou.
Os peritos pontuam ainda que o objetivo durante o desenvolvimento de um modelo de inteligência artificial é obter a maior precisão possível, adequada ao contexto no qual está inserida. (Texto publicado em o Popular).