Da Ascom
O Perito Oficial Biólogo do Tocantins, e agora, Mestre em Biodiversidade, Ecologia e Conservação, Tiago Scapini, defendeu, nessa segunda-feira, 13, sua dissertação de mestrado intitulada “Dipterofauna de importância forense associada a cadáveres humanos no estado do Tocantins’.
Este é um trabalho pioneiro para o estado do Tocantins, sendo a primeira pesquisa científica realizada no escopo da Entomologia Forense com coletas ocorrendo diretamente em cadáveres humanos.
A pesquisa aconteceu por meio do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade, Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Tocantins (PPGBec/UFT - Porto Nacional), e ocorreu no período de janeiro de 2021 a fevereiro de 2022 (esforço amostral de 14 meses), e analisou espécimes coletados em 40 cadáveres humanos recebidos pelo Instituto Médico Legal – ILM/Palmas neste período, o que representa um dos maiores esforços amostrais já realizados no Brasil na área da Entomologia Forense.
O Perito teve como professor orientador, o Professor Dr. Rodrigo Ferreira Krüger (UFPel) e como coorientador o Dr. Rosildo Mendes Evangelista Sobrinho, agente de Necrotomia do Instituto Médico Legal do Tocantins (IML), além de uma grande rede de apoio dos Agentes de Necrotomia do instituto. Segundo relata o Perito Oficial Biólogo do Tocantins, Tiago Scapini, a colaboração dos Agentes de Necrotomia foi imprescindível para a realização da pesquisa.
Foto:Nicole Kavalerski
O resultado, de acordo com o Perito, “foi a confirmação de uma grande riqueza de espécies de importância forense no Tocantins, com registro de 18 espécies associadas aos cadáveres humanos estudados. Deste total, 16 espécies nunca haviam sido registradas associadas a cadáveres humanos para o bioma Cerrado. Além disso, a pesquisa registrou a ocorrência de 16 espécies ainda não registradas em pesquisas semelhantes para a Região Norte do país”, afirma o agora Mestre Tiago Battisti Scapini.
Além disso, assegura Scapini, “obtivemos, de forma inédita, o primeiro registro da espécie Retrocitomyia mizuguchiana colonizando cadáveres humanos. Até o presente momento, os registros desta espécie estavam restritos a pesquisa com iscas e carcaças animais”, pontua o Perito, ressaltando que “se trata de uma das maiores pesquisas já realizadas em cadáveres humanos no País”.
Foto:Nicole Kavalerski
Outra importante contribuição da pesquisa foi a ampliação do conhecimento sobre a distribuição geográfica das espécies, contribuindo inclusive para a ampliação das listas de dípteros de importância forense considerando o primeiro registro de uma espécie colonizando cadáveres humanos já realizado.
Sobre a pesquisa, Tiago Battisti Scapini informou que a mesma foi realizada com o objetivo de identificar as espécies de dípteros de importância forense para a Medicina Legal, associados a cadáveres humanos no estado do Tocantins, sendo este, o primeiro passo para a aplicação da Entomologia Forense na Polícia Científica do estado. A pesquisa consistiu em coletar ovos, larvas e pupas diretamente nos cadáveres humanos colonizados e, em laboratório, criar os espécimes até que estes completem seu ciclo de vida, alcançando a fase adulta. A partir desta fase, os animais foram eutanasiados e identificados a nível de espécie.
Foto:Nicole Kavalerski
Para o Mestre em Biodiversidade, Ecologia e Conservação, “as evidências entomológicas encontradas nos cadáveres humanos fornecem uma série de informações e essa é uma área ainda pouco explorada a nível de Brasil, tendo em vista que poucos institutos de criminalística possuem laboratórios de Entomologia Forense. Aqui no Tocantins nós ainda não temos, mas essa pesquisa é o primeiro passo para que a gente consiga no futuro estruturar um laboratório e auxiliar a Polícia Científica na elucidação dos crimes’, destaca.
O Perito Oficial Biólogo assegura que a Entomologia Forense possui condições de responder algumas questões importantes a respeito das circunstâncias do crime como: estimativa de intervalo pós-morte, transferência pós-mortal, pesquisa sobre entomogenética forense e entomotoxicologia forense’, disse.
Legalidade da Coleta
As coletas dos insetos foram feitas em 40 cadáveres oriundos de várias regiões do Estado. As coletas foram realizadas pelo Perito pesquisador e pelos Agentes de Necrotomia do Instituto Médico Legal, em virtude do acesso legal aos cadáveres. A pesquisa foi autorizada pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP-TO), pelo IML/TO e pelo Comitê de Ética e Pesquisa Humana da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Além destas, a pesquisa também foi autorizada pelos órgãos ambientais competentes por fauna silvestre.
O Perito ressalta ainda que nenhuma informação de cunho pessoa sobre os cadáveres humanos é coletada e nem divulgada pelos pesquisadores. Além disso, a coleta garante o sigilo das informações e é realizada com respeito aos familiares que perderam um ente querido.
Outro ponto destacado pelo pesquisador é que a Entomologia Forense fornece o dado mais confiável para a estimativa pós-morte em cadáveres em avançado estado de decomposição, pois após 72h os fenômenos cadavéricos naturais sofrem uma grande influência do ambiente, o que acaba dificultando a estimativa de intervalo pós-morte no exame necroscópico que é realizado pelos médicos legistas. Então neste caso, a entomologia forense é a melhor evidência para estimar o intervalo pós-morte do cadáver.