Reconstrução facial leva Instituto Geral de Perícias do RS a identificar jovem desaparecido

09/11/2020 09/11/2020 08:35 1805 visualizações

 

Reconstrução facial leva Instituto Geral de Perícias do RS a identificar jovem desaparecido

 

A partir do crânio, peritos conseguiram reproduzir a face do homem, identificá-lo entre as pessoas desaparecidas e entregar ossada à família. Caso ocorreu em 2016 e foi relatado em estudo publicado neste ano.

 

Por Cristiano Dalcin, Kelly Veronez, Ronaldo Daros e Janaína Lopes, RBS TV e G1 RS

 

06/11/2020 18h41 Atualizado há 2 dias

 


 

Perita mostra resultados de reconstrução facial — Foto: Cristiano Dalcin/RBS TV

Com o uso de um smartphone, softwares livres e trabalho pericial, o Instituto Geral de Perícias (IGP) reconstituiu o rosto de um homem a partir do crânio e conseguiu descobrir a identidade dele. O caso foi em 2016 e foi relatado recentemente em um estudo publicado pelos peritos envolvidos no trabalho.

A ossada havia sido localizada em Estrela, no Vale do Taquari, há quatro anos. Armazenada no Departamento Médico-Legal (DML), ficou sem identificação até que a reconstituição foi feita, e o resultado foi comparado com imagens das pessoas desaparecidas cadastradas no sistema da Secretaria de Segurança Pública.

O cruzamento de informações levou à identificação de Lucas Junqueira. Um exame genético feito a partir da amostra de um familiar confirmou se tratar dele.

Lucas havia desaparecido ao sair do trabalho. Tinha 25 anos na época. O corpo foi entregue à família em 2017. A causa da morte foi indeterminada.

 Assista o vídeo em: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2020/11/06/reconstrucao-facial-leva-instituto-geral-de-pericias-do-rs-a-identificar-jovem-desaparecido.ghtml

Jovem está desaparecido no Vale do Taquari

Segundo o IGP, a técnica complementa o trabalho de investigação forense, como comparação com banco de dados genético e análise de arcada dentária. Além disso, ajuda a reduzir custos.

“O objetivo da reconstrução facial não é identificar, mas aproximar e reconhecer a fisionomia da vítima. Assim, estreitamos a procura, diminuímos o número de supostas vítimas e conduzimos até a identificação, de forma mais rápida e mais barata para o estado, pois é feito apenas um confronto genético”, afirma a perita criminal Rosane Baldasso.

Desde então, a técnica de reconstituição vem ajudando na análise de cenas de crimes e de acidentes de trânsito.

 

Software consegue estimar características como posição dos olhos, da boca e das orelhas — Foto: Divulgação/IGP-RS

Como foi feita a reconstituição facial

 

O trabalho iniciou a partir do crânio. A seção de Perícias em Áudio e Imagem do Departamento de Criminalística, junto com o designer Cícero Moraes, fez um estudo de levantamento de perfil antropológico do crânio, que permitiu obter a estimativa de sexo, idade e ancestralidade, para traçar os contornos do rosto.

"Conseguimos digitalizar o crânio usando smartphones simples. Tiramos uma série de fotografias do crânio. As imagens são enviadas a um algoritmo computacional, que reconstrói [o crânio]", explica o designer.

As projeções em 3D são feitas a partir de dados estatísticos colhidos a partir de centenas de pessoas.

"Além desse processo de reconstrução do crânio, nós também utilizamos uma espécie de software que desenvolvi, que pega o crânio, alinha a uma posição padronizada, coloca marcadores de profundidade de tecido, que, grosso modo, nos dá a ideia de onde a pele estaria", acrescenta Cícero.

Com essas informações, é possível retraçar as posições do nariz, dos olhos, das orelhas e da boca. O designer salienta que dispor do crânio inteiro é fundamental para um resultado mais preciso.

"O que pode acontecer, se faltar algum pedaço do osso, é gerar alguma reconstrução incoerente", aponta Cícero.

Outro item fundamental é conhecer a ancestralidade da pessoa. "O rosto de um asiático difere ligeiramente dos outros. A mesma coisa se aplica ao africano e ao europeu, que são os três grandes grupos ancestrais. Isso dá uma maior precisão na reconstrução", exemplifica.

Cícero comenta que colabora com trabalhos periciais em vários estados, além da parceria com o IGP-RS. Em 2019, ele participou de outro trabalho de reconstrução facial no RS: o que recriou o rosto da múmia egípcia Iret-Neferet, encontrada em Cerro Largo.

 

Lucas Junqueira desapareceu em 2016, aos 25 anos. Sua ossada foi identificada após reconstrução facial pelo IGP — Foto: Reprodução/RBS TV

'Dor continua'

 

A mãe de Lucas, Eliane Rohrig Junqueira, lembra da angústia de não ter notícias do filho. "Pelo menos eu sei onde ele tá agora. Imagina se eu não soubesse, o que seria? Se tava passando fome, frio, calor. Pelo menos a gente sabe que ele tá. Só que agora a dor continua", afirma.

A dona de casa diz que a família ainda espera o motivo da morte de Lucas, que morreu pouco antes de ser pai pela primeira vez. O filho, Luan, tem quatro anos.

Para famílias que esperam pelo reaparecimento de um parente, Eliane aconselha a "nunca perder a esperança". "Ir à luta, com fé em Deus, que a resposta vem.

 

 

Mãe de Lucas, Eliane Roehrig Junqueira — Foto: Ronaldo Daros/RBS TV

Fonte:G1/RS