ento forte, férias e o momento ideal para empinar pipas na Capital. A brincadeira poderia ser um momento lúdico e nostálgico se não fossem as linhas com cerol, que possuem uma enorme capacidade de corte e até ferimentos profundos que são potencialmente mortais quando atingem a região do pescoço.
Quem passou pelo susto sabe do perigo do produto nas linhas de pipas, como é o caso do mototaxista Marcusuel Camelo da Silva, 23 anos. Ele conta que estava com uma motocicleta nova e, segundo ele, pela falta de tempo não conseguiu colocar a antena de proteção no veículo.
Devido à falta do equipamento, o mototaxista sofreu um grave acidente na semana passada quando cortou o pescoço em uma linha de pipa, que estava com cerol, na Avenida LO 27. “Levei pontos internos e perdi muito sangue. Agora estou 10 dias de repouso. Graças a Deus estou aqui, pela gravidade dos ferimentos, os médicos dizem que foi um milagre eu estar vivo”.
Depois do susto, ele acredita que é difícil para quem trabalha com motocicleta se previr, porém, aposta que o uso da antena de proteção seja a melhor forma de evitar esse tipo de acidente. “Então a melhor forma de se prevenir é instalar o equipamento. Agora por parte do poder público acredito que a antena na moto deveria ser um item obrigatório, assim como o capacete. Deveria ter mais fiscalização, além de mais campanhas sobre conscientização do perigo e vigilância dos pais”.
O cerol é um líquido feito artesanalmente com pó de vidro e cola. Ele é colocado por toda extensão da linha a fim de torná-la cortante. A intenção é derrubar outras pipas que estiverem no céu.
Mas atualmente, existe uma lei nacional, a 12.192/2006, que proíbe o uso de cerol ou de qualquer produto semelhante que possa ser aplicado em linhas de papagaios ou pipas. Outra lei paulista, a 10.017/1998, já proibia a fabricação e venda dessa mistura de cola e vidro moído.
A perícia já registrou casos isolados nos últimos anos do uso desses produtos nas linhas de pipa. Conforme o vice-presidente do Sindicato dos Peritos Oficiais do Estado do Tocantins, o perito Silvio Jaca, há algum tempo já não é tão comum essa infração, até mesmo pelo fato da cultura de utilização desses objetos para recreação ter diminuído com o decorrer dos anos.
Talvez pela mudança para outros brinquedos ou atividades por crianças e adultos, mas notamos recentemente que os amantes dessa prática recreativa voltaram a utilizar as pipas ou papagaios, inclusive com novos modelos e o hábito de utilizar o cerol nas linhas também retornou e junto com isso, obviamente, aumenta a probabilidade de acontecer acidentes desta natureza”, alerta.
Jaca destaca que os praticantes da atividade recreativa ou esportiva, em alguns momentos realizam disputas entre si para cortar a linha do outro e o cerol aumenta a capacidade d o ato. “Hoje em dia já existe outro produto chamado linha chilena que tem capacidade de corte maior que a linha com cerol e é comercializado livremente entre os empinadores de pipa, indica”.
O perito ainda afirma que no Tocantins neste período de férias é mais comum esse tipo de acidente com cerol e a linha chilena devido a fatores como a disponibilidade de tempo dos praticantes e as condições de ventos mais intensos.
Ele também explica que o cerol normalmente é fabricado de forma artesanal misturando cola com vidro moído ou limalha (pó) de ferro e passando nas linhas, já a linha chilena é feita com quartzo moído e óxido de alumínio se tornando muito mais eficaz para cortar.
LEI
O especialista frisa que no Estado não existe uma lei que regulamenta ou puna a atividade de empinar pipas utilizando cerol ou linha chilena, porém, em alguns lugares o uso do produto é considerado como crime. “Dependendo da situação, o usuário desses produtos pode ser responder criminalmente, como se alguém se ferir ou morrer. Com a investigação e a perícia pode-se chegar a um possível suspeito de um eventual acidente e ele pode responder por lesão corporal culposa e até homicídio”.